O que você achou do Primeiro Seminário da etapa 2?

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Ideal de vida

Clarice Lispector

“Um nome para o que eu sou, importa muito pouco. Importa o que eu gostaria de ser.
O que eu gostaria de ser era uma lutadora. Quero dizer, uma pessoa que luta pelo bem dos outros. Isso desde pequena eu quis. Por que foi o destino me levando a escrever o que já escrevi, em vez de também desenvolver em mim a qualidade de lutadora que eu tinha? Em pequena, minha família por brincadeira chamava-me de ‘a protetora dos animais’. Porque bastava acusarem uma pessoa para eu imediatamente defendê-la.
[...] No entanto, o que terminei sendo, e tão cedo? Terminei sendo uma pessoa que procura o que profundamente se sente e usa a palavra que o exprima.
É pouco, é muito pouco.”

Gisele Carvalho

segunda-feira, 22 de março de 2010

Primeiro Seminário da etapa 2


Neste último fim de semana iniciamos a segunda etapa do curso de Letras a Distância. Como é bom ver que os alunos venceram a primeira etapa e já iniciam a segunda!!! Neste início de etapa também recebemos uma colega nova, a Milca, que foi muito benvinda em nossa turma. No sábado, pela manhã, tivemos a Formação Comum com a profa. Iolanda, que nos falou sobre o Projeto Político-Pedagógico e também sobre a Educação Inclusiva. Esses temas serão levados a discussão na primeira oficina. No sábado a tarde, a profa. Mônica nos presenteou com sua aula sobre a Formação Histórica da Língua Portuguesa, conhecimento importante ao futuro professor de língua portuguesa. É preciso conhecer as origens de nossa língua materna. No domingo, pela manhã, foi a vez de a profa. Helena Borges nos trazer a beleza da literatura, cuja abordagem foi sobre a Estética da Recepção. Na ocasião, foi discutido um texto de Italo Calvino "Por que ler os clássicos". Pessoal, leiam o romance Helena, de Machado de Assis, para discutirmos na próxima oficina, dia 24 de abril!!!.

Ainda domingo de manhã tivemos novamente a presença da profa. Mônica, desta vez com a Linguística histórico-comparada do século XIX, tema importante para compreendermos o desenvolvimento da linguística do século XX, com Saussure e pós Saussure. E no domingo a tarde, o prof. Bruno Carvalho nos presenteou com uma brilhante oficina de Língua Inglesa.

A imagem que postamos aqui contém quatro momentos do seminário. Acima e esquerda a profa. Helena na aula de literatura. Acima e direita temos um momento da aula do prof. Bruno Carvalho. Abaixo e esquerda, um dos momentos da oficina de língua inglesa. Abaixo e direita, temos, da esquerda para a direita, o aluno Jurcelen, profa. Helena Borges, as alunas Gleicy, Lucimar, Milca e Djanira, a profa. Mônica e as alunas Maria Edine, Sônia e Gisele.


Preceptor. Prof.Ms.Giovanni Oliveira

terça-feira, 16 de março de 2010

Despedida


Estou partindo!!!

"ISTO NÃO É UM LAMENTO, é um grito de ave rapina. Irisada e intranquila. O beijo no rosto do morto" ( Clarice Lispector, UM SOPRO DE VIDA ).

Degraus afastados e a subida agora aponta para o SUL. Saudades suas Santa Catarina, terra tão Santa. De amores e aromas sustentei-me aqui. Difícil abandonar, ainda sinto seus braços acariciando meu futuro. Querida Minas Gerais.

Beijos para todos e que Deus os acompanhe...

Maeles

sexta-feira, 12 de março de 2010

4ª Oficina da etapa 1 - 27/02/2010




Na quarta oficina da etapa 1 os alunos tiveram oficina de inglês pela manhã e a segunda avaliação a tarde. Eles gostaram da oficina de inglês, pois conheceram um pouco mais de vocabulário e aprenderam a ver as horas. Momentos antes da avaliação, nada como uma pequena dinâmica para relaxar os músculos da tensão que uma prova traz. É isso aí, pessoal, felizmente todos saíram-se bem nas avaliações.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Felipe Peixoto Braga Netto (1973) afirma que não é jornalista, não é publicitário, nunca publicou crônicas ou contos, não é, enfim, literariamente falando, muita coisa, segundo suas palavras. Mora em Belo Horizonte e ama Minas Gerais. Ele diz que nunca publicou nada, mas a crônica que apresentamos foi extraída do livro "As coisas simpáticas da vida", Landy Editora, São Paulo (SP) - 2005, pág. 82.

Sotaque mineiro: é ilegal, imoral ou engorda?

Felipe Peixoto Braga Netto


''Minas não é palavra montanhosa.
É palavra abissal. Minas é dentro
E fundo”

Carlos Drummond de Andrade



Gente, simplificar é um pecado. Se a vida não fosse tão corrida, se não tivesse tanta conta para pagar, tantos processos — oh sina — para analisar, eu fundaria um partido cuja luta seria descobrir as falas de cada região do Brasil.

Cadê os lingüistas deste país? Sinto falta de um tratado geral das sotaques brasileiros. Não há nada que me fascine mais. Como é que as montanhas, matas ou mares influem tanto, e determinam a cadência e a sonoridade das palavras?

É um absurdo. Existem livros sobre tudo; não tem (ou não conheço) um sobre o falar ingênuo deste povo doce. Escritores, ô de casa, cadê vocês? Escrevam sobre isto, se já escreveram me mandem, que espero ansioso.

Um simples" mas" é uma coisa no Rio Grande do Sul. É tudo menos um "mas" nordestino, por exemplo. O sotaque das mineiras deveria ser ilegal, imoral ou engordar. Porque, se tudo que é bom tem um desses horríveis efeitos colaterais, como é que o falar, sensual e lindo (das mineiras) ficou de fora?

Porque, Deus, que sotaque! Mineira devia nascer com tarja preta avisando: ouvi-la faz mal à saúde. Se uma mineira, falando mansinho, me pedir para assinar um contrato doando tudo que tenho, sou capaz de perguntar: só isso? Assino achando que ela me faz um favor.

Eu sou suspeitíssimo. Confesso: esse sotaque me desarma. Certa vez quase propus casamento a uma menina que me ligou por engano, só pelo sotaque.

Mas, se o sotaque desarma, as expressões são um capítulo à parte. Não vou exagerar, dizendo que a gente não se entende... Mas que é algo delicioso descobrir, aos poucos, as expressões daqui, ah isso é...

Os mineiros têm um ódio mortal das palavras completas. Preferem, sabe-se lá por que, abandoná-las no meio do caminho (não dizem: pode parar, dizem: "pó parar". Não dizem: onde eu estou?, dizem: "ôndôtô?"). Parece que as palavras, para os mineiros, são como aqueles chatos que pedem carona. Quando você percebe a roubada, prefere deixá-los no caminho.

Os não-mineiros, ignorantes nas coisas de Minas, supõem, precipitada e levianamente, que os mineiros vivem — lingüisticamente falando — apenas de uais, trens e sôs. Digo-lhes que não.

Mineiro não fala que o sujeito é competente em tal ou qual atividade. Fala que ele é bom de serviço. Pouco importa que seja um juiz, um jogador de futebol ou um ator de filme pornô. Se der no couro — metaforicamente falando, claro — ele é bom de serviço. Faz sentido...

Mineiras não usam o famosíssimo tudo bem. Sempre que duas mineiras se encontram, uma delas há de perguntar pra outra: "cê tá boa?" Para mim, isso é pleonasmo. Perguntar para uma mineira se ela tá boa, é como perguntar a um peixe se ele sabe nadar. Desnecessário.

Há outras. Vamos supor que você esteja tendo um caso com uma mulher casada. Um amigo seu, se for mineiro, vai chegar e dizer: — Mexe com isso não, sô (leia-se: sai dessa, é fria, etc).

O verbo "mexer", para os mineiros, tem os mais amplos significados. Quer dizer, por exemplo, trabalhar. Se lhe perguntarem com o que você mexe, não fique ofendido. Querem saber o seu ofício.

Os mineiros também não gostam do verbo conseguir. Aqui ninguém consegue nada. Você não dá conta. Sôcê (se você) acha que não vai chegar a tempo, você liga e diz:

— Aqui, não vou dar conta de chegar na hora, não, sô.

Esse "aqui" é outro que só tem aqui. É antecedente obrigatório, sob pena de punição pública, de qualquer frase. É mais usada, no entanto, quando você quer falar e não estão lhe dando muita atenção: é uma forma de dizer, olá, me escutem, por favor. É a última instância antes de jogar um pão de queijo na cabeça do interlocutor.

Mineiras não dizem "apaixonado por". Dizem, sabe-se lá por que, "apaixonado com". Soa engraçado aos ouvidos forasteiros. Ouve-se a toda hora: "Ah, eu apaixonei com ele...". Ou: "sou doida com ele" (ele, no caso, pode ser você, um carro, um cachorro). Elas vivem apaixonadas com alguma coisa.

Que os mineiros não acabam as palavras, todo mundo sabe. É um tal de bonitim, fechadim, e por aí vai. Já me acostumei a ouvir: "E aí, vão?". Traduzo: "E aí, vamos?". Não caia na besteira de esperar um "vamos" completo de uma mineira. Não ouvirá nunca.

Na verdade, o mineiro é o baiano lingüístico. A preguiça chegou aqui e armou rede. O mineiro não pronuncia uma palavra completa nem com uma arma apontada para a cabeça.

Eu preciso avisar à língua portuguesa que gosto muito dela, mas prefiro, com todo respeito, a mineira. Nada pessoal. Aqui certas regras não entram. São barradas pelas montanhas. Por exemplo: em Minas, se você quiser falar que precisa ir a um lugar, vai dizer:

— Eu preciso de ir.

Onde os mineiros arrumaram esse "de", aí no meio, é uma boa pergunta. Só não me perguntem. Mas que ele existe, existe. Asseguro que sim, com escritura lavrada em cartório. Deixa eu repetir, porque é importante. Aqui em Minas ninguém precisa ir a lugar nenhum. Entendam... Você não precisa ir, você "precisa de ir". Você não precisa viajar, você "precisa de viajar". Se você chamar sua filha para acompanhá-la ao supermercado, ela reclamará:

— Ah, mãe, eu preciso de ir?

No supermercado, o mineiro não faz muitas compras, ele compra um tanto de coisa. O supermercado não estará lotado, ele terá um tanto de gente. Se a fila do caixa não anda, é porque está agarrando lá na frente. Entendeu? Deus, tenho que explicar tudo. Não vou ficar procurando sinônimo, que diabo. E não digo mais nada, leitor, você está agarrando meu texto. Agarrar é agarrar, ora!

Se, saindo do supermercado, a mineirinha vir um mendigo e ficar com pena, suspirará:

— Ai, gente, que dó.

É provável que a essa altura o leitor já esteja apaixonado pelas mineiras. Eu aviso que vá se apaixonar na China, que lá está sobrando gente. E não vem caçar confusão pro meu lado.

Porque, devo dizer, mineiro não arruma briga, mineiro "caça confusão". Se você quiser dizer que tal sujeito é arruaceiro, é melhor falar, para se fazer entendido, que ele "vive caçando confusão".

Para uma mineira falar do meu desempenho sexual, ou dizer que algo é muitíssimo bom (acho que dá na mesma), ela, se for jovem, vai gritar: "Ô, é sem noção". Entendeu, leitora? É sem noção! Você não tem, leitora, idéia do tanto de bom que é. Só não esqueça, por favor, o "Ô" no começo, porque sem ele não dá para dar noção do tanto que algo é sem noção, entendeu?

Ouço a leitora chiar:

— Capaz...

Vocês já ouviram esse "capaz"? É lindo. Quer dizer o quê? Sei lá, quer dizer "tá fácil que eu faça isso", com algumas toneladas de ironia. Gente, ando um péssimo tradutor. Se você propõe a sua namorada um sexo a três (com as amigas dela), provavelmente ouvirá um "capaz..." como resposta. Se, em vingança contra a recusa, você ameaçar casar com a Gisele Bundchen, ela dirá: "ô dó dôcê". Entendeu agora?

Não? Deixa para lá. É parecido com o "nem...". Já ouviu o "nem..."? Completo ele fica:

- Ah, nem...

O que significa? Significa, amigo leitor, que a mineira que o pronunciou não fará o que você propôs de jeito nenhum. Mas de jeito nenhum. Você diz: "Meu amor, cê anima de comer um tropeiro no Mineirão?". Resposta: "nem..." Ainda não entendeu? Uai, nem é nem. Leitor, você é meio burrinho ou é impressão?

A propósito, um mineiro não pergunta: "você não vai?". A pergunta, mineiramente falando, seria: "cê não anima de ir"? Tão simples. O resto do Brasil complica tudo. É, ué, cês dão umas volta pra falar os trem...

Certa vez pedi um exemplo e a interlocutora pensou alto:

— Você quer que eu "dou" um exemplo...

Eu sei, eu sei, a gramática não tolera esses abusos mineiros de conjugação. Mas que são uma gracinha, ah isso lá são.

Ei, leitor, pára de babar. Que coisa feia. Olha o papel todo molhado. Chega, não conto mais nada. Está bem, está bem, mas se comporte.

Falando em "ei...". As mineiras falam assim, usando, curiosamente, o "ei" no lugar do "oi". Você liga, e elas atendem lindamente: "eiiii!!!", com muitos pontos de exclamação, a depender da saudade...

Tem tantos outros... O plural, então, é um problema. Um lindo problema, mas um problema. Sou, não nego, suspeito. Minha inclinação é para perdoar, com louvor, os deslizes vocabulares das mineiras.

Aliás, deslizes nada. Só porque aqui a língua é outra, não quer dizer que a oficial esteja com a razão. Se você, em conversa, falar:

— Ah, fui lá comprar umas coisas...

— Que' s coisa? — ela retrucará.

Acreditam? O plural dá um pulo. Sai das coisas e vai para o que.

Ouvi de uma menina culta um "pelas metade", no lugar de "pela metade". E se você acusar injustamente uma mineira, ela, chorosa, confidenciará:

— Ele pôs a culpa "ni mim".

A conjugação dos verbos tem lá seus mistérios, em Minas... Ontem, uma senhora docemente me consolou: "preocupa não, bobo!". E meus ouvidos, já acostumados às ingênuas conjugações mineiras. nem se espantam. Talvez se espantassem se ouvissem um: "não se preocupe", ou algo assim. A fórmula mineira é sintética. e diz tudo.

Até o tchau. em Minas. é personalizado. Ninguém diz tchau pura e simplesmente. Aqui se diz: "tchau pro cê", "tchau pro cês". É útil deixar claro o destinatário do tchau. O tchau, minha filha, é prôcê, não é pra outra entendeu?

Deve haver, por certo, outras expressões... A minha memória (que não ajuda muito) trouxe essas por enquanto. Estou, claro, aberto a sugestões. Como é uma pesquisa empírica, umas voluntárias ajudariam... Exigência: ser mineira. Conversando com lingüistas, fui informado: é prudente que tenham cabelos pretos, espessos e lisos, aquela pele bem branquinha... Tudo, naturalmente, em nome da ciência. Bem, eu me explico: é que, características à parte, as conformações físicas influem no timbre e som da voz, e eu não posso, em honrados assuntos mineiros, correr o risco de ser inexato, entendem?


E-Mails: felipepeixoto@oi.com.br


Gente tó colocando esse trexo de Felipe Peixoto porque adoreiiii..achei interessante é engraçado..espero q gostem..até a proximaaa..beijim a todos...

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Amor é fogo que arde sem se ver

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís de Camões



Gisele Carvalho

sábado, 30 de janeiro de 2010

O dramático

Dramático é o céu,
Dramática são as flores,
Dramático é meu peito,
Pois não tem mais amores.

Ser assim tão drama,
Ser assim sem elas,
Ser assim sozinho,
Como trincos sem janelas.

Clamo a tu amor,
Suplico a ti perdão,
Espero que entendas assim meu coração.

Olhes para frente e esqueças o passado,
Me queira amor de novo,
Assim sempre ao seu lado.

Victor Alexandre (Memorias do meu tempo de crianca)

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Meu sonho

Meu Sonho (Cecília Meireles)

Parei as águas do meu sonho
para teu rosto se mirar.
Mas só a sombra dos meus olhos
ficou por cima, a procurar...
Os pássaros da madrugada
não têm coragem de cantar,
vendo o meu sonho interminável
e a esperança do meu olhar.
Procurei-te em vão pela terra,
perto do céu, por sobre o mar.
Se não chegas nem pelo sonho,
por que insisto em te imaginar?
Quando vierem fechar meus olhos,
talvez não se deixem fechar.
Talvez pensem que o tempo volta,
e que vens, se o tempo voltar.
Gisele

ROCHEDOS - continuação

IV



Se algum desejo ainda me resta
ou se um fino lampejo de ar
de dentro de mim salta,
pouco importa o que seja
ou tanto faz lembrar-me da relva
ou do olhar de céu, ou da nuvem.
Nada ou tudo me ainda resta
ou não tens essa impressão?

Queria beijar-te
e queria que minha alma
fosse tua, fosse tua
Sinto tua alma e
de minha parte sou parte tua
se pudesses ver-me
e se eu pudesse sentir...

Queria sentir-te
um pouco de poesia e alma
ou se teu fosse o meu olhar
verde olhar a ver-te
porém não!
Ah, se pudesses saber de mim.
onde estás?


V



Se estás ao meu lado
em meu pulsar tu estás
e quando vejo-te passar
de tua face faço meu sonho
porque és gracioso e doce
e de tua doçura alimento
e alimento meu sonhar
porque és para mim
o que não sou para ti.

Queria abraçar-te
um abraço de eternidade
como a mim abraçaste
em dias atrás, que luz.
E tudo o que senti havia sido
uma contraparte de luz
ou quem sabe alguma esperança
de poder encontrar-me em ti.

Talvez eu te dissesse
algo de amor ou de timidez
Mas não faria isso, jamais
porque és para mim
o que não sou para ti.
E tu és tudo para mim
e eu sou metade para ti.


VI



Se eu não me lembrasse
daquela viagem
talvez as coisas não seriam
ou quem sabe seriam
menos tristes cinzas duras
Via no teu rosto
não o meu próprio rosto
mas o meu olhar em teu olhar

Tão perto estou de ti
tão distante de mim
está o teu coração
És como tão gracioso vento
que passa e lança em mim
a semente do eterno
Estejas perto ou longe

Uma viagem que termina
é uma lembrança que vejo
tive por dias o teu olhar
via em ti o mundo
a minha alma eu via
ligada em ti.
Se eu não lembrasse
daquela viagem
eu não saberia que tua alma
também não está em ti
como a minha não está em mim
Porque minha alma está em ti
mas a tua em mim não está.

VII



Se as fontes secassem,
de sede não morreria,
tantas noites e tantos dias
sem o que não posso ter de ti
de sede, viver aprendi
Não tenho mais meu corpo
porque o meu corpo não é
meu coração.
E meu coração está em ti
como em ti estão os meus sentidos

É inútil pensar na distância
porque não estás distante,
estás ao lado, ou de frente
mas estás fora de mim
mesmo estando eu a sentir-te
em meu perto-mas-longe.

Se os mares transbordassem,
de afogamento não morreria,
pois de tanto aprender a viver sem ti,
aprendi a afogar-me sem morrer,
e aprendi que o grito que vem de dentro
é pior do que morrer.



Autoria: Giovanni de Paula Oliveira.

CANTARES DO SEM NOME E DE PARTIDAS


Hilda Hilst, minha amada poetisa brasileira, escreveu em seu poema número 5 de CANTARES:


O Nunca Mais não é verdade.
Há ilusões e assomos, há repentes
De perpetuar a Duração.
O Nunca Mais é só meia-verdade:
Como se visses a ave entre a folhagem
E ao mesmo tempo não.
(E antevisses
Contentamento e morte na paisagem).

O Nunca Mais é de planície e fendas.
É de abismos e arroios.
É de perpetuidade no que pensas efêmero
E breve e pequenino
No que sentes Eterno.

Nem é corvo ou poema o Nunca Mais.



Postado por: Giovanni Oliveira

domingo, 24 de janeiro de 2010

ROCHEDOS

I


Se ao menos ao lado de ti
eu acordasse
não haveria nuvem
gravetos folhas secas
cercas rochedos
pedras despedaçadas
acordado em pedras
carnes amargas
jeitos e árticas águas

haste de pedra
nem naquela erva
a selva e a relva
círculo de chuva e sol
gama

Ah, se ao lado de ti
ao menos ao lado de ti
eu acordasse
ou se dentro de nós vivesse
a eternidade!


II





Se acaso não me procurares
a mim encontrarás em longe
não estará em mim a leva
sem dúvida entrarás em ti
o minuto de silêncio
do Norte-Mar

Esta é a morte do caos
ou a sorte de areia
ou de noite a folha, a carne
o coração, sentimento seco
quem sabe a profundeza?
Não há nada porque
é proibido.

E porque é proibido,
é proibido sonhares.
Pois se acaso me procurares
não me encontrarás
ao menos que estejas
ao norte,
o Norte-Mar.



III



Se em algum momento
eu fosse poeta,
eu despertaria a alma
cruzaria os ventos
desvendaria o prazer do nada
ou de tudo o que se passa
mesmo que um dia
o sonho não se faça.

Andei pelos muros
e águas, e sem mares e pedras
nem mesas calmas lesmas
o atento da etérea lembrança
um marco desse dia
a despeito de achar a lua
ou despedaçar o tempo
ou outra coisa que eu faça.

Se ao menos eu fosse poeta
não me restariam apenas
os frios rochedos
nem a ventania agreste
que ao mesmo tempo é verão
ou ao mesmo tempo inverno.


(Autoria - Giovanni de Paula Oliveira)

O amar

O amar é o fundo de um vazio sem mar,
É andar sobre o fogo sem se queimar,
É tocar o céu sem poder alcançar,
É correr sobre as nuvens sem nelas pisar,
É fazer um quindim sem ovos quebrar,
É contemplar as estrelas sem poder enxergar,
É mandar um e-mail sem a net ligar,
É comer a comida sem nem mastigar,
É trazer a lenha sem a árvore cortar,
É nadar nas lavas de um vulcão a jorrar,
É entender tudo isso sem que se precise explicar.

Victor Alexandre (Memorias do meu tempo de crianca)

sábado, 23 de janeiro de 2010

Luminária

Das aves de asas cortadas
penas curtas alinhadas
semeia-me luz ao seu vício!

Minha carne cobre ventos fecundos
na sua ausência.

(Maeles Geisler)

CANÇÃO DA MOÇA-FANTASMA DE BELO HORIZONTE



Eu sou a Moça-Fantasma
que espera na Rua do Chumbo
o carro da madrugada.
Eu sou branca e longa e fria,
a minha carne é um suspiro
na madrugada da serra.
Eu sou a Moça-Fantasma. O meu nome era Maria,
Maria-Que-Morreu-Antes.

Sou a vossa namorada
que morreu de apendicite,
no desastre de automóvel
ou suicidou-se na praia
e seus cabelos ficaram
longos na vossa lembrança.
Eu nunca fui deste mundo:
Se beijava, minha boca
dizia de outros planetas
em que os amantes se queimam
num fogo casto e se tornam
estrelas, sem irônia.
Morri sem ter tido tempo
de ser vossa, como as outras.
Não me conformo com isso,
e quando as polícias dormem
em mim e fora de mim,
meu espectro itinerante
desce a Serra do Curral,
vai olhando as casas novas,
ronda as hortas amorosas
(Rua Cláudio Manuel da Costa),
pára no Abrigo Ceará,
nao há abrigo. Um perfume
que não conheço me invade:

é o cheiro do vosso sono
quente, doce, enrodilhado
nos braços das espanholas.
– Oh! deixai-me dormir convosco.

E vai, como não encontro
nenhum dos meus namorados,
que as francesas conquistaram,
e cine beberam todo o uísque
existente no Brasil
(agora dormem embriagados),
espreito os Carros que passam
com choferes que não suspeitam
de minha brancura e fogem.
Os tímidos guardas-civis,
coitados! um quis me prender.
Abri-lhe os braços... Incrédulo,
me apalpou. Não tinha carne
e por cima do vestido
e por baixo do vestido
era a mesma ausência branca,
um só desespero branco...
Podeis ver: o que era corpo
foi comido pelo gato.

As moças que ainda estão vivas
(hão de morrer, ficai certos)
têm medo que eu apareça
e lhes puxe a perna... Engano.
Eu fui moça, Serei moça
deserta, per omnia saecula.

Não quero saber de moças.
Mas os moços me perturbam.
Não sei como libertar-me.
Se o fantasma não sofresse,
se eles ainda me gostassem
e o espiritismo consentisse,
mas eu sei que é proibido
vós sois carne, eu sou vapor.

Um vapor que se dissolve
quando o sol rompe na Serra.

Agora estou consolada,
disse tu do que queria,
subirei àquela nuvem,
serei lâmina gelada,
cintilarei sobre os homens.
Meu reflexo na piscina da Avenida Paraúna
(estrelas não se compreendem),
ninguém o compreenderá.

A disciplina do amor

"Quem me detesta tanto asiim para me atacar ate em sonho? Quis saber e nesse intante vi minha imagem refletida no espelho".
Ligia Fagundes