O que você achou do Primeiro Seminário da etapa 2?

sábado, 30 de janeiro de 2010

O dramático

Dramático é o céu,
Dramática são as flores,
Dramático é meu peito,
Pois não tem mais amores.

Ser assim tão drama,
Ser assim sem elas,
Ser assim sozinho,
Como trincos sem janelas.

Clamo a tu amor,
Suplico a ti perdão,
Espero que entendas assim meu coração.

Olhes para frente e esqueças o passado,
Me queira amor de novo,
Assim sempre ao seu lado.

Victor Alexandre (Memorias do meu tempo de crianca)

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Meu sonho

Meu Sonho (Cecília Meireles)

Parei as águas do meu sonho
para teu rosto se mirar.
Mas só a sombra dos meus olhos
ficou por cima, a procurar...
Os pássaros da madrugada
não têm coragem de cantar,
vendo o meu sonho interminável
e a esperança do meu olhar.
Procurei-te em vão pela terra,
perto do céu, por sobre o mar.
Se não chegas nem pelo sonho,
por que insisto em te imaginar?
Quando vierem fechar meus olhos,
talvez não se deixem fechar.
Talvez pensem que o tempo volta,
e que vens, se o tempo voltar.
Gisele

ROCHEDOS - continuação

IV



Se algum desejo ainda me resta
ou se um fino lampejo de ar
de dentro de mim salta,
pouco importa o que seja
ou tanto faz lembrar-me da relva
ou do olhar de céu, ou da nuvem.
Nada ou tudo me ainda resta
ou não tens essa impressão?

Queria beijar-te
e queria que minha alma
fosse tua, fosse tua
Sinto tua alma e
de minha parte sou parte tua
se pudesses ver-me
e se eu pudesse sentir...

Queria sentir-te
um pouco de poesia e alma
ou se teu fosse o meu olhar
verde olhar a ver-te
porém não!
Ah, se pudesses saber de mim.
onde estás?


V



Se estás ao meu lado
em meu pulsar tu estás
e quando vejo-te passar
de tua face faço meu sonho
porque és gracioso e doce
e de tua doçura alimento
e alimento meu sonhar
porque és para mim
o que não sou para ti.

Queria abraçar-te
um abraço de eternidade
como a mim abraçaste
em dias atrás, que luz.
E tudo o que senti havia sido
uma contraparte de luz
ou quem sabe alguma esperança
de poder encontrar-me em ti.

Talvez eu te dissesse
algo de amor ou de timidez
Mas não faria isso, jamais
porque és para mim
o que não sou para ti.
E tu és tudo para mim
e eu sou metade para ti.


VI



Se eu não me lembrasse
daquela viagem
talvez as coisas não seriam
ou quem sabe seriam
menos tristes cinzas duras
Via no teu rosto
não o meu próprio rosto
mas o meu olhar em teu olhar

Tão perto estou de ti
tão distante de mim
está o teu coração
És como tão gracioso vento
que passa e lança em mim
a semente do eterno
Estejas perto ou longe

Uma viagem que termina
é uma lembrança que vejo
tive por dias o teu olhar
via em ti o mundo
a minha alma eu via
ligada em ti.
Se eu não lembrasse
daquela viagem
eu não saberia que tua alma
também não está em ti
como a minha não está em mim
Porque minha alma está em ti
mas a tua em mim não está.

VII



Se as fontes secassem,
de sede não morreria,
tantas noites e tantos dias
sem o que não posso ter de ti
de sede, viver aprendi
Não tenho mais meu corpo
porque o meu corpo não é
meu coração.
E meu coração está em ti
como em ti estão os meus sentidos

É inútil pensar na distância
porque não estás distante,
estás ao lado, ou de frente
mas estás fora de mim
mesmo estando eu a sentir-te
em meu perto-mas-longe.

Se os mares transbordassem,
de afogamento não morreria,
pois de tanto aprender a viver sem ti,
aprendi a afogar-me sem morrer,
e aprendi que o grito que vem de dentro
é pior do que morrer.



Autoria: Giovanni de Paula Oliveira.

CANTARES DO SEM NOME E DE PARTIDAS


Hilda Hilst, minha amada poetisa brasileira, escreveu em seu poema número 5 de CANTARES:


O Nunca Mais não é verdade.
Há ilusões e assomos, há repentes
De perpetuar a Duração.
O Nunca Mais é só meia-verdade:
Como se visses a ave entre a folhagem
E ao mesmo tempo não.
(E antevisses
Contentamento e morte na paisagem).

O Nunca Mais é de planície e fendas.
É de abismos e arroios.
É de perpetuidade no que pensas efêmero
E breve e pequenino
No que sentes Eterno.

Nem é corvo ou poema o Nunca Mais.



Postado por: Giovanni Oliveira

domingo, 24 de janeiro de 2010

ROCHEDOS

I


Se ao menos ao lado de ti
eu acordasse
não haveria nuvem
gravetos folhas secas
cercas rochedos
pedras despedaçadas
acordado em pedras
carnes amargas
jeitos e árticas águas

haste de pedra
nem naquela erva
a selva e a relva
círculo de chuva e sol
gama

Ah, se ao lado de ti
ao menos ao lado de ti
eu acordasse
ou se dentro de nós vivesse
a eternidade!


II





Se acaso não me procurares
a mim encontrarás em longe
não estará em mim a leva
sem dúvida entrarás em ti
o minuto de silêncio
do Norte-Mar

Esta é a morte do caos
ou a sorte de areia
ou de noite a folha, a carne
o coração, sentimento seco
quem sabe a profundeza?
Não há nada porque
é proibido.

E porque é proibido,
é proibido sonhares.
Pois se acaso me procurares
não me encontrarás
ao menos que estejas
ao norte,
o Norte-Mar.



III



Se em algum momento
eu fosse poeta,
eu despertaria a alma
cruzaria os ventos
desvendaria o prazer do nada
ou de tudo o que se passa
mesmo que um dia
o sonho não se faça.

Andei pelos muros
e águas, e sem mares e pedras
nem mesas calmas lesmas
o atento da etérea lembrança
um marco desse dia
a despeito de achar a lua
ou despedaçar o tempo
ou outra coisa que eu faça.

Se ao menos eu fosse poeta
não me restariam apenas
os frios rochedos
nem a ventania agreste
que ao mesmo tempo é verão
ou ao mesmo tempo inverno.


(Autoria - Giovanni de Paula Oliveira)

O amar

O amar é o fundo de um vazio sem mar,
É andar sobre o fogo sem se queimar,
É tocar o céu sem poder alcançar,
É correr sobre as nuvens sem nelas pisar,
É fazer um quindim sem ovos quebrar,
É contemplar as estrelas sem poder enxergar,
É mandar um e-mail sem a net ligar,
É comer a comida sem nem mastigar,
É trazer a lenha sem a árvore cortar,
É nadar nas lavas de um vulcão a jorrar,
É entender tudo isso sem que se precise explicar.

Victor Alexandre (Memorias do meu tempo de crianca)

sábado, 23 de janeiro de 2010

Luminária

Das aves de asas cortadas
penas curtas alinhadas
semeia-me luz ao seu vício!

Minha carne cobre ventos fecundos
na sua ausência.

(Maeles Geisler)

CANÇÃO DA MOÇA-FANTASMA DE BELO HORIZONTE



Eu sou a Moça-Fantasma
que espera na Rua do Chumbo
o carro da madrugada.
Eu sou branca e longa e fria,
a minha carne é um suspiro
na madrugada da serra.
Eu sou a Moça-Fantasma. O meu nome era Maria,
Maria-Que-Morreu-Antes.

Sou a vossa namorada
que morreu de apendicite,
no desastre de automóvel
ou suicidou-se na praia
e seus cabelos ficaram
longos na vossa lembrança.
Eu nunca fui deste mundo:
Se beijava, minha boca
dizia de outros planetas
em que os amantes se queimam
num fogo casto e se tornam
estrelas, sem irônia.
Morri sem ter tido tempo
de ser vossa, como as outras.
Não me conformo com isso,
e quando as polícias dormem
em mim e fora de mim,
meu espectro itinerante
desce a Serra do Curral,
vai olhando as casas novas,
ronda as hortas amorosas
(Rua Cláudio Manuel da Costa),
pára no Abrigo Ceará,
nao há abrigo. Um perfume
que não conheço me invade:

é o cheiro do vosso sono
quente, doce, enrodilhado
nos braços das espanholas.
– Oh! deixai-me dormir convosco.

E vai, como não encontro
nenhum dos meus namorados,
que as francesas conquistaram,
e cine beberam todo o uísque
existente no Brasil
(agora dormem embriagados),
espreito os Carros que passam
com choferes que não suspeitam
de minha brancura e fogem.
Os tímidos guardas-civis,
coitados! um quis me prender.
Abri-lhe os braços... Incrédulo,
me apalpou. Não tinha carne
e por cima do vestido
e por baixo do vestido
era a mesma ausência branca,
um só desespero branco...
Podeis ver: o que era corpo
foi comido pelo gato.

As moças que ainda estão vivas
(hão de morrer, ficai certos)
têm medo que eu apareça
e lhes puxe a perna... Engano.
Eu fui moça, Serei moça
deserta, per omnia saecula.

Não quero saber de moças.
Mas os moços me perturbam.
Não sei como libertar-me.
Se o fantasma não sofresse,
se eles ainda me gostassem
e o espiritismo consentisse,
mas eu sei que é proibido
vós sois carne, eu sou vapor.

Um vapor que se dissolve
quando o sol rompe na Serra.

Agora estou consolada,
disse tu do que queria,
subirei àquela nuvem,
serei lâmina gelada,
cintilarei sobre os homens.
Meu reflexo na piscina da Avenida Paraúna
(estrelas não se compreendem),
ninguém o compreenderá.

A disciplina do amor

"Quem me detesta tanto asiim para me atacar ate em sonho? Quis saber e nesse intante vi minha imagem refletida no espelho".
Ligia Fagundes